O psicanalista é o profissional que escuta o inconsciente. Na definição de Elisabeth Roudinesco, ter um inconsciente é ter dentro de si um lugar que se esconde da consciência, cheio de imaginação, de intuição e de emoções. O inconsciente, ela diz, é quando você não decide.
O que um psicanalista faz, quando escuta o inconsciente, é analisar. Análise leva tempo, porque análise não é síntese. A análise leva em conta as relações absolutamente singulares que cada sujeito tem com as pessoas (por exemplo, pai, mãe, irmãos, filhos, o chefe, amigos e inimigos) e as coisas do mundo (dentre as quais a família, o trabalho, a sexualidade, o dinheiro). Ninguém é igual a ninguém.
Um trabalho de análise leva em conta a repercussão que tem para cada sujeito os acontecimentos grandes e pequenos de uma vida. Ver nascer um filho, começar a ter medo de elevador, perder o emprego, descobrir uma doença grave ou um segredo de família, casar-se, envelhecer. Analisar é separar esses acontecimentos em partes ainda menores, poder pensar sobre os sentidos deles, e depois recompor de outro jeito.
como se forma um psicanalista
O psicanalista não é necessariamente um psicólogo.
Todo psicanalista fez uma primeira graduação. Não necessariamente Psicologia. O que um psicanalista aprende, em sua formação, é a alfabetizar-se na linguagem do inconsciente, por meio de um percurso que inclui a sua própria análise, o estudo da teoria psicanalítica, e a supervisão da prática clínica.
A análise pessoal do analista permite que ele compreenda seus modos de funcionamento. A análise o ajuda a não se misturar nas histórias de vida de outras pessoas. Afinal de contas, embora os sofrimentos se pareçam, somos todos radicalmente diferentes uns dos outros.
Um analista precisa estudar a teoria psicanalítica. A teoria conta de um pensamento que se deu a partir de uma experiência vivida com determinados sujeitos, e depois pensada por outras pessoas, em um tempo histórico diferente do nosso. A teoria não é trilho de trem. Ela conta das trilhas percorridas por um analista no encontro com determinadas pessoas que o autorizaram a analisá-las.
O psicanalista que exerce a clínica precisa ser supervisionado. O supervisor do psicanalista é um profissional mais experiente, que escuta o analista contando o que sente e ouve, o que deixa de sentir e ouvir com cada um de seus analisandos. Junto com o supervisor, o analista pode pensar caminhos para o seu trabalho clínico.