A psicanálise faz uma aposta no encontro entre pelo menos duas pessoas, que constróem um espaço de intimidade no qual um fala, e um outro escuta. A escuta é não somente das palavras – também os espaços entre elas, as repetições, o corpo e as fantasias, os sonhos e os silêncios. Tudo que se diz ou não se diz pode ajudar a pensar sobre os acontecimentos de uma vida, e sobre os afetos que puderam ou não ser sentidos, e puderam ou não ser nomeados.
A cada vez que um sujeito conta de si, na presença desse outro que escuta desse jeito diferente, temos a oportunidade de colocar em prática muitas operações: do falar ao ouvir; do ouvir ao sentir; do sentir ao pensar; do pensar ao fazer – e, na direção contrária, do fazer ao pensar.
É a constância desse trabalho que vai permitir a composição, fio a fio, e ponto a ponto, de uma trama de texturas e cores únicas, diante da qual quem sabe vai ser possível que um sujeito se desloque, na direção de ser mais aquilo que pode.
Análise não é síntese. Leva tempo.
Leva tempo porque nos custa admitir por que sofremos, e que parte temos nisso.
Vera Iaconelli, no seu livro Análise, publicado em 2025 pela Companhia das Letras, explora essa investigação a partir da metáfora de um buffet self-service. Lá de onde se veio, pode ser que a comida fosse toda fresca, preparada no dia, e tudo nutricionalmente equilibrado, para além de gostoso. Mas pode ser que, para outra pessoa, o buffet fosse todo com comida feia, passando do ponto, talvez até estragada. A cada um de nós, independente de como era o buffet, coube escolher o que colocar no prato.
Mas como assim, alguém escolhe sofrer? Pois é pra entender isso, e mais que tudo, tentar inventar um outro jeito de viver, que a gente faz essa aposta na psicanálise.